Todos habitamos um corpo que, afinal, somos os únicos a não conhecer em 3 dimensões. Mas será este corpo um aliado que contribui para a nossa noção de ser e poder ou, pelo contrário, um inimigo a dominar?
QUANDO FALAMOS em imagem corporal estamos a referir-nos à percepção individual que cada pessoa tem do seu corpo, bem como à atitude que ela demonstra face à sua aparência. É, portanto, algo mais subjectivo do que objectivo. Na verdade, a imagem que temos do nosso corpo pode não corresponder àquela que os outros têm de nós. Aliás, é frequentemente mais negativa.
Muitos factores estão na base das crescentes preocupações acerca da imagem. O culto da magreza surge, actualmente, com grande impacto, alimentando uma autêntica máquina de marketing, sustentando as mais diversas indústrias e potenciando frequentemente a insatisfação individual. Os anúncios mostram-nos manequins de moda ultra-magras (um ideal, na maioria das vezes, impossível e até pouco saudável), instigam a que se mude a cor do cabelo, o contorno dos lábios, o peito... Mas os meios de comunicação social só reflectem o que se passa na sociedade em geral e vice-versa. Muitas vezes, em conversa, é assumido o mesmo tipo de comportamento. Criticam-se, a brincar (embora muito a sério!), várias partes do corpo, fazendo dos pontos vulneráveis um foco vital perverso.
PODE SER UM lugar comum criticar o corpo mas nem por isso deixa de ser prejudicial fazê-lo. Muitas podem ser as consequências:
> TEMPO PERDIDO: É gasta uma quantidade considerável de tempo e energia em pensamentos negativos e distorcidos acerca do corpo, perdendo-se tempo precioso que podia ser utilizado para investir nas relações e objectivos pessoais.
> SONHOS PERDIDOS: Em vez de se usufruir da vida no presente, fantasia-se sobre um futuro em que o corpo perfeito será o passaporte para a felicidade.
> DIVERTIMENTO PERDIDO: Evita-se o envolvimento numa vasta gama de actividades - acontecimentos sociais, instalações desportivas, praia - que poderiam ser importantes fontes de distracção, satisfação, prazer e equilíbrio.
MAS... terá mesmo de ser assim? Porque é que não podemos ter uma imagem corporal positiva, aceitando imperfeições e valorizando encantos pessoais? Será que a referência que temos de utilizar é a imagem de perfeição irrealista que aparece na televisão e capas de revista?
O CORPO FAZ muitas coisas boas por nós. Ele permite que vivamos, que nos movimentemos todos os dias, que alcancemos objectivos e que expressemos quem somos através dos mais diversos actos físicos. Simultaneamente, proporciona-nos bem-estar quando relaxamos, dançamos ou nos envolvemos em actividades sensuais. São muitas as estratégias a desenvolver para que, cada vez mais, ter e ser um corpo possam trabalhar juntos:
Desenhe o seu corpo.
Quem tem uma imagem muito negativa do seu corpo pode percepcioná-lo de forma distorcida. Para ter uma ideia precisa das suas medidas, desenhe o seu corpo numa faixa de papel em tamanho real ou com giz no chão da sua casa. Depois, peça a alguém que lhe desenhe os contornos do seu corpo numa outra tela. Compare as duas versões!
Não adie mais a sua vida.
Faça uma lista das situações que evita por causa do seu aspecto físico. Depois, classifique essas situações numa escala de 1 a 10 para medir o receio que sente em enfrentá-las. Escolha a situação que menos o intimida, estabeleça um prazo para a cumprir e faça-o! Um truque para vencer a barreira inicial pode ser o estabelecimento de certas salvaguardas. Por exemplo, se o problema é estar na praia de fato de banho ou bikini, decida que, se ainda se sentir desconfortável ao final de 15 minutos, abandona a praia ou veste uma roupa por cima. O mais difícil é chegar à praia e assim a viagem não lhe parecerá tão intimidante!
Actividade Física.
A actividade física tem um papel fundamental a vários níveis. Também aqui é promovida a relação com o corpo. Ao praticar qualquer actividade, estará a aprofundar o seu conhecimento em termos da forma como o seu corpo funciona, explorando sensações como o erguer-se, dobrar-se, esticar-se e inclinar-se, desenvolvendo força e resistência. Pode então descentrar-se da forma: Ao invés de pensar no volume das coxas pode pensar em termos de força. E se quiser experimentar coisas novas aliadas ao exercício mais convencional, vai perceber que o seu corpo é também fonte de divertimento!
Faça uma lista.
Liste todas as formas através das quais se martiriza com a sua aparência (vestir e despir roupa atrás de roupa antes de sair de casa, ou ir à natação porque não gosta de se ver em fato de banho) tentando pensar nos sentimentos e pensamentos que acompanharam cada situação bem como as consequências de tais comportamentos (atrasos, oportunidades perdidas). Paralelamente, tente desenvolver uma lista de comportamentos, pensamentos e sentimentos alternativos, esses sim conducentes a consequências mais adaptadas (experimentar coisas novas).
Veja-se livre dos pensamentos distorcidos.
Depois de, através da lista, ter identificado onde estão as formas de se comportar e pensar que são distorcidas (como “As pessoas notam imediatamente o que está errado na minha aparência”; “Se eu tivesse uma imagem diferente, seria uma pessoa mais feliz”; “A minha imagem é responsável por muitas coisas que me sucederam”). Tente assumir o papel de crítico e interrogar este pensamento. Imagine-se em diálogo consigo e coloque a si próprio algumas questões: “Quais são as vantagens/desvantagens desta forma de pensar a curto e longo prazo?”; “Se fossem outros a viver esta situação eu julgaria da mesma forma?... se a resposta é negativa, o que me torna diferente”; “Que conselhos daria aos outros e o que me impede de os seguir?”; “Um júri de pessoas diferentes concordaria com esta forma de pensar? Que indicadores eles usariam que eu não estou a usar?”; “Este pensamento contribui para eu alcançar os meus objectivos?” Quando alguém lhe diz que está a ficar com barriga, esse comentário fornece-lhe informações acerca dessa pessoa e não acerca de si. De facto, quem gosta do corpo que tem, aceitando-o sem problemas, procede da mesma maneira em relação aos outros. Tenha presente que face a comentários de terceiros a forma de os encarar é da sua responsabilidade. Não tem que interiorizar esse comentário e tomá-lo como verdadeiro. Pode ser sinal de falta de sensibilidade ou outro problema por parte do outro.
Procure aquilo de que gosta no seu corpo.
Em vez das características que se habituou a não gostar no seu físico, crie o hábito de apreciar aquilo de que sempre gostou. Existe sempre um lado positivo em tudo na vida e o seu corpo não é excepção.
Trate bem o seu corpo.
Crie o hábito de se tratar bem e de proporcionar ao seu corpo os “mimos” de que ele precisa. Pode ser uma roupa favorita para “ele” se sentir melhor, uma massagem, uma caminhada na praia ou um banho de sol. A forma como tratamos o nosso corpo reflecte aquilo que pensamos de nós. Trate bem de si!
É FUNDAMENTAL considerar que a imagem corporal é apenas uma das dimensões da auto-estima. O nosso “amor-próprio” não depende exclusivamente da imagem física que construímos de nós mas de muitos outros factores, todos eles a serem valorizados e potenciados no sentido do bem-estar. Sentir-se competente, acreditar que é capaz, pode constituir-se como uma importante fonte de amor-próprio, reflectindo-se mesmo no resultado das acções. Posto isto, pense em tudo o que o seu corpo faz por si e mime-o... A qualquer peso!
Por MARLENE NUNES SILVA, Psicóloga Clínica
Fonte: Rituais
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