segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dieta do futuro deverá ter em conta perfil genético individual

A dieta do futuro deverá ter em conta as pequenas, mas abundantes, diferenças genéticas existentes no genoma humano, mas há ainda um longo caminho a percorrer até se generalizarem as dietas personalizadas, defende um nutricionista.

Fábio Pereira, um dos participantes no VIII Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação, que hoje se inicia no Porto, disse à Lusa que uma dieta eficaz terá de aliar as diferenças genéticas à exposição ambiental de cada indivíduo.

O investigador, que está a concluir o doutoramento no Instituto de Investigações Biomédicas da Universidade Autónoma de Madrid, referiu casos em que a mesma dieta pode ter respostas diferentes, como acontece com os regimes baixos em sódio, que reduzem a tensão arterial nuns pacientes e não noutros.

Por outro lado, "dois gémeos com a mesma constituição genética, se forem separados, serão diferentes ao fim de 30 anos".

São questões exploradas pela genómica nutricional, nas suas duas vertentes, a nutrigenética e a nutrigenómica.

"Enquanto a nutrigenética estuda a resposta da constituição genética de cada indivíduo aos diferentes estímulos do ambiente, como a dieta, a nutrigenómica debruça-se sobre os efeitos da dieta na constituição genética de um organismo, ou seja como o ambiente modela a expressão dos genes", explicou.

Exemplificou que 20 a 30 por cento da população tem uma pequena alteração genética na enzima que metaboliza o ácido fólico, ou vitamina B9, de importância reconhecida para as grávidas, segundo demonstrou um estudo realizado nos anos 80 nos Estados Unidos.

Como essas pessoas não metabolizam o ácido fólico da dieta da mesma maneira e dada a frequência dessa alteração genética na população, foi recomendado em vários países, e decidido por lei nos Estados Unidos, fortificar os cereais em ácido fólico.

"Estas pequenas diferenças genéticas entre os indivíduos, a que chamamos polimorfismos, são as formas mais simples de variações genéticas encontradas no nosso genoma", explicou Fábio Pereira, distinguindo-as das mutações genéticas, normalmente patogénicas, que podem levar a doenças graves.

"Um polimorfismo tem um impacto menor ou mais difícil de ver na nossa saúde", afirmou. "Seria por isso muito interessante ver o impacto de um conjunto grande de variações genéticas e o seu significado para a saúde humanas, especialmente a nível preventivo".

Principalmente para algumas vitaminas e alguns minerais, há peritos mundiais que consideram necessário reajustar as recomendações a nível das medidas populacionais de alimentação.

Questionado sobre o custo que implicaria a generalização de dietas personalizadas, Fábio Pereira lembra que as inovações tecnológicas reduziram substancialmente os custos das análises genéticas.

Nos Estados Unidos e mesmo na Europa existem já empresas que propõem dietas personalizadas baseadas em perfis genéticos individuais, mas falta ainda legislação nesta área emergente.

Na perspectiva desde investigador, licenciado em Ciências da Nutrição pela Universidade do Porto, embora existam provas científicas mais ou menos convincentes de alguns polimorfismos, "é ainda muito precoce fazer qualquer tipo de recomendação ou intervenção".

"Estamos ainda no início de um longo caminho", concluiu.

lusa

Fonte:
Sic Sapo

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